Envelhecer

    Interessante demais é a primeira vez que nos damos conta de estarmos envelhecendo de fato. Vinícius de Moraes em uma de suas belas canções diz a gente mal nasce, começa a morrer. Desde muito menino, mesmo ainda não conhecendo a letra, comungo dessa opinião. Quando ultrapassamos os trinta verões as canções que gostamos são antiquadas, alguns jovens dizem que seus pais também costumam fazer coisas demodée tais quais as nossas e nos frustamos ao falar de um jogador de futebol que alguns indivíduos de pouco mais de vinte anos afirmam nunca sequer terem ouvido falar.
     Uma coisa é certa: se não estivermos dispostos a gastar parte de nossos ganhos no divã de um analista, é bom que saibamos aceitar o instante que vivemos e quem sabe algumas limitações que o tempo começa a nos impor.
    Não é a primeira vez que eu menciono nesse blog a minha admiração por Bastos Tigre, poeta cuja obra me foi apresentada por meu amigo Sérgio Fonseca. Nesse post deixo um poema de sua autoria que nos ensina de forma magistral como lidar com a nau da idade que cisma, numa velocidade estonteante, atracar no cais de nossos corpos.

Envelhecer



Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.

Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!


Que a neve caia! o teu ardor não mude!
Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.

Bastos Tigre