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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Eutanásia

       Empurrou lentamente a porta do quarto. A escuridão do interior se desfazia geometricamente num trapézio de luz invertido que vinha do corredor.
       Sobre o estrado da cama sem colchão ele o via, com olhos inertes e escuros estrebuchando com as costas coladas na armadilha que comprara na casa de ração.
      A vida se esvaia daquele ser aos poucos num se debater impotente....
      De pé, vassoura em punho, o homem refletiu uns poucos segundos e concluiu que aquilo seria o melhor a se fazer.
      Desferiu um golpe hercúleo e certeiro aplacando o sofrimento do bicho e expurgando o asco que o acompanhava por saber que aquelas patas trafegavam pelos cômodos durante aquela semana.
      Houve um barulho seco! Uma só pancada cujo som fora abafado pelo assentar das piaçavas.
Suado e trêmulo de nojo, ao colocar o rato morto dentro do saco preto de lixo, prenhe de propriedade, sussurrou:

     _ Mesmo você, que disseminou o pânico se esgueirando à noite pelos cantos de minha casa, merece uma morte digna!
 
Cristiano Marcell

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